O Diário de Notícias do Rio de Janeiro


O Diário de Notícias do Rio de Janeiro é uma daquelas páginas que eu gostaria de arrancar do caderno da minha história.

Mas, história é história; não dá para apagar; fica pra sempre.

Faz tanto tempo que eu trabalhei para o falecido Diário de Notícias, que o Rio de Janeiro ainda era capital do Estado da Guanabara.

Fui registrado “Repórter” do Diário de Notícias no dia 2 de julho de 1973.

Meu salário era de “Cr$ 1.722,00 (hum mil e setecentos e vinte e dois cruzeiros) mensais”, conforme registro existente na página 11 da minha primeira carteira profissional.

Na época, eu ganhava R$ 2.062,00 por mês no Estadão.

Eu entrava cedinho no Estadão, na Rua Major Quedinho, 28, e lá ficava até o meio da tarde.

Por volta das 15 horas, saia do Estadão e corria para a Rua 7 de Abril, quase esquina com a Praça da República.

A sucursal do Diário de Notícias ficava no prédio da revista Visão, dirigida pelo então futuro ministro das Comunicações, Said Farhat.

No Diário de Notícias eu ficava até anoitecer.

Fazia um serviço frustrante para um jovem repórter.

Dificilmente saia da sucursal para reportagens externa.

Até porque o único veículo disponível no jornal era uma velha e surrada Aero Willis.

A sucursal era dirigida pelo veteraníssimo Carlos Prata.

Ele era carioca e tinha sido um dos grandes jornalistas do Jornal do Brasil.

Prata era divertido, bem-humorado e vivia contando casos.

Um deles me lembro até hoje.

Era o caso de um repórter do JB.

O sujeito era tão lerdo, mas tão lerdo, que Prata chegou pra ele um dia e disse, na lata: “Você é um ótimo repórter, mas deveria trabalhar em revista; numa revista anual; numa revista anual e que saísse em branco”.

O interessante era que a cada frase Prata levantava o tom da voz e assim ia criando maior expectativa em mim.

No fim do caso, todos nós caiamos na gargalhada.

O motorista da Aero Willis era uma outra figura inesquecível.

Alcides tinha uma voz tão forte, mas tão forte, que quase quebrava as vidraças da sucursal quando se metia a cantar “Granada”.

Do Diário de Notícias eu guardo uma outra passagem histórica, embora triste.

Um dia apareceu por lá uma jovem muito bonita, enviada por Augusto Nunes, meu ex-colega de Estadão, na época repórter de Veja.

Ela me disse ser estudante de Jornalismo.

Tinha um texto em mãos e precisava publicá-lo onde quer que fosse para validá-lo com trabalho de conclusão de curso.

Li e gostei.

Sentei numa velha máquina de telex e escrevi um bilhete para a chefia de Redação, no Rio, recomendando o texto.

Em seguida, pedi a Arnaldo, o operador, que digitasse o texto da jovem e transmitisse para a Redação.

Dias depois ela voltou para pegar o jornal e eu tive o desprazer de mostrar que o texto havia sido publicado com o meu nome, como se eu fosse o autor.

Sorte minha ter tido a idéia de fazer uma carta em que declarava que ela era autora daquele texto.

Mesmo assim, Marta Góes me agradeceu pela publicação.

Esta, entretanto, não foi minha última tristeza no Diário de Notícias do Rio de Janeiro.

Um dia, ao chegar para trabalhar, encontrei a porta da sucursal lacrada pela Justiça.

Em consequência, fiquei sem três salários, 13º, férias, FGTS, Previdência Social e outros direitos.

Que aventura, meu Deus, foi trabalhar no Diário de Notícias do Rio de Janeiro.

Cláudio Amaral

19/12/2006 06:40:25 (em São Paulo) e 31/05/2012 00:44:02 (em Ashburn Village, Virgínia, EUA)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O versátil tio Walter

O Jornal do Comércio de Marília